segunda-feira, 9 de abril de 2012

Amor perfeito, so nos jardins

O único amor perfeito que conheci ao longo de minha vida foi nos jardins.
O outro amor perfeito só existe nos livros e nas histórias de fada.
O mito do amor romântico parece fortalecer nas culturas o desejo que o ser humano tem de encontrar no seu mundo exterior a solução para suas imperfeições.
O amor perfeito é sempre o amor impossível, o amor inacessível, o amor que não corresponde à realidade e que só se realiza nas obras de ficção.
No contexto da reflexão grega, a perfeição é colocada como fim a que se destina o movimento do artista.
A perfeição não é caminho, mas chegada.
Dessa forma, o conceito não favorece o movimento, mas, ao contrário, sugere lugar já alcançado, chegado.A partir do conceito grego de perfeição, nenhuma pessoa pode ser considerada perfeita, afinal, ninguém está pronto.
Essa verdade fere profundamente a expectativa de todos os que esperam encontrar pessoas perfeitas para estabelecer suas relações humanas.
Nós, que sentimos regularmente na carne as consequências de nossas imperfeições,e não temos outro jeito de sobreviver a elas senão assumindo o movimento da vida como oportunidades contínuas de superação e aperfeiçoamento, quando nos encontramos com os outros, precisamos considerar que eles estão vivendo o mesmo processo que nós.
Somos imperfeitos, mas não estamos condenados a ser vítimas de nossa imperfeição.
O outro também não está condenado a morrer com seus defeitos.
Dessa forma, num encontro de imperfeitos, nasce um desejo concreto de juntos lapidarem suas humanidades.
Mas nem sempre o que ocorre é isso.
É quase um movimento natural na vida humana a busca pelas pessoas perfeitas que venham suprir nossas imperfeições.
Inconscientes ou não vivemos uma busca desonesta de pessoas que correspondam às expectativas de nossas projeções e idealizações.
O que temos diante de nós é uma contradição da existência.
O mito nos retira do contato com a realidade.A partir dele, as pessoas passam a procurar realidades ideais.
E o conflito se estabelece ainda mais quando percebemos que pessoas que se sabem imperfeitas estão constantemente buscando pessoas e realidades perfeitas.Aqui está a força da inadequação.
As pessoas, no afã de encontrarem a pessoa ideal, a pessoa perfeita, começam a imaginar.
Olham, mas não vêm. Esbarram, mas não encontram, porque o encontro requer autenticidade.
É justamente aqui que nascem os sequestros.
É deste "não encontro" e deste "não ver" que as pessoas começam suas relações.Começam a projetar uma nas outras suas necessidades e lacunas.
Esses cativeiros se estabelecem a partir de pedidos de mudanças de comportamento, atitudes e até mesmo de mudança estéticas.
Desse encontro nasceram duas condições: sequestrados e sequestrador.
Consciente ou não, a pessoa parece inventar a outra.
E inventar é uma forma de estabelecer cativeiros, uma vez que a "disposição de si" fica ameaçada.
Fernando Pessoa nos fala desta realidade em alguns versos do poema "Tabacaria":

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